O MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE CÓS
Passeando há tempos pela região de
Alcobaça, por onde me «perco» com alguma frequência, fui parar ao centro de
freguesia de Cós e fui naturalmente atraído pela mole enorme do seu mosteiro.
Já por lá tinha passado uma ou outra
vez sem grande tempo para me deter mas, neste dia, decidi que era tempo de
parar e dedicar um pouco mais de atenção àquela simpática freguesia.
Situada no concelho de Alcobaça, o
primeiro desafio quando nos aproximamos é, desde logo, o nome. Cós como aparece
escrito em grande parte da literatura que encontrei sobre a freguesia, ou Coz
como é apresentada no sítio da internet da Junta de Freguesia e no folheto
turístico editado por esta mesma Junta.
Para ter uma ideia do lindíssimo
envolvimento paisagístico da povoação e do Mosteiro sugiro que se suba ao adro
da Ermida de Santa Rita que também já foi designada por Jesus do Calvário. De
fato, para lá se chegar acima a pé é como subir ao calvário mas compensa o
esforço. Animem-se os menos afoitos porque se pode chegar ao local de carro.
Admire-se a paisagem e desça-se finalmente para Cós.
A povoação terá sido fundada pelos fenícios,
no século VII antes da nossa era. Segundo a tradição foram eles a dar-lhe o
nome que ainda hoje possui, em memória da ilha com o nome de Kos, de que então
eram senhores, pertencente ao arquipélago de Espórades, nas proximidades das
costas da Ásia Menor.
Entretanto surge Portugal e, em
resultado da conquista de Santarém, o nosso primeiro rei doa a vasta região de
Alcobaça aos Monges de Cister que se instalam naquelas paragens a partir de
1150. Em 1222 mudam-se para novas instalações da Real Abadia de Santa Maria de
Alcobaça.
O papel dos cistercienses naquela
região é conhecido de quase toda a gente e deixou marcas que chegaram ais
nossos dias.
Entretanto muitas senhoras piedosas
quiseram imitar os monges aqui e em muitos outros locais e, ao que parece, um
grupo delas ter-se-á instalado em Cós ou na Póvoa, um lugar da freguesia ainda
no reinado de Sancho I. Há referências em documentos diversos às «donas e irmãs de Cós» desde 1241. (Gerard Leroux, no Jornal O Alcoa de 28 de Abril de
1994).
Em 1279 o
Abade do Mosteiro de Alcobaça cumprindo uma cláusula do testamento do rei (D.
Sancho I?) terá mandado construir em Cós um mosteiro para mulheres viúvas que
levassem uma vida piedosa. Uma carta de D. Dinis coloca o mosteiro sob sua
proteção: «… recebo em minha guarda, e em
minha encomenda e sob meu defendimento, Abadessa e Convento e Mosteiro das donas
de Cós…»
O Mosteiro sofreu grandes obras de
alargamento e remodelação ao longo dos séculos XVI e XVII e mesmo no século
XVIII sobretudo após os danos causados pelo terramoto de 1755 que também ali
provocou danos.
Abandonado e vendido em hasta pública
após a extinção das ordens religiosas em Portugal no séc. XIX foi-se degradando
pelo uso impróprio dos particulares que adquiriram diversas parcelas do mesmo, ou
pela falta dele. Só a Igreja foi sobrevivendo às agruras do tempo e dos homens
mas mesmo essa a muito custo. Considerada imóvel de interesse público desde
1946 só em 1958 começou a sofrer as primeiras intervenções de conservação e
restauro levadas a cabo pela Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
(DGEMN).
Recuperou-se a Igreja mas valia a pena
tentar ainda recuperar o que resta do dormitório das freiras (parece que a
construção de uma estrada atirou para as suas fundações o topo oeste do mesmo
dormitório).
Vale a pena, apesar de tudo, visitar o
que resta e foi conservado. A igreja não indica no exterior a riqueza de que é
possuidora no interior. É enorme, desde logo. Depois surpreende pela talha e
pelos azulejos. Outros pormenores como as telas do altar-mor, a imaginária dos
vários altares, o cadeiral do coro, o portal manuelino colocado na parede
nascente do coro das monjas, merecem, de fato, uma visita.
Para saber mais acerca do Mosteiro de
Santa Maria de Cós, encontra-se à venda no mesmo Mosteiro e creio que será
possível encontra-lo nas livrarias da região o livro «Mosteiro de Santa Maria de Cós – Contributos para a sua Conservação e
Valorização» de Ana Margarida Louro Martinho. Nesta obra é citada várias
vezes uma outra que deveria ter bastante interesse abordando o assunto numa
perspetiva que me pareceu completar a que atrás se indica mas que segundo
parece não se encontra já no mercado e a editora entretanto faliu. Trata-se de «Intimidade e Encanto – O Mosteiro
Cisterciense de Santa Maria de Cós» de Cristina André de Pina e Saúl
António Gomes. Se alguém souber de um exemplar a mais em qualquer sítio
agradeço que me faça chegar a informação.